Romantismo
· Primado dos valores do sentimento e da sensibilidade;
· Individualismo
· Hipertrofia do eu: Egocentrismo
· Inspiração livre
· Arte desligada de valores éticos, utilitários e sociais. Autonomia dos valores estéticos
· Arrebatamentos, exaltação desmedida, espontaneidade
· Nacionalismo
· Homem indisciplinado, revoltado, irrequieto, pessimista
· Homem que procura a evasão do real: no espaço – fuga para locais que representem qualquer coisa de exótico/diferente; no tempo – fuga para o passado (nomeadamente para épocas histórias em especial para a idade média)
· Homem revoltado contra a sociedade, perdido do seu eu
· Culto da mulher-anjo (frágil, pura, vestida de branco) ou então da mulher-demónio (leva os homens à perdição).
· Amor sentimental e sensorial
· Natureza espontânea, selvagem, sombria, melancólica
· Preferência pelas horas sombrias ou crepusculares ou da noite
· Preferência pelas personagens imperfeitas
· Vocabulário familiar, afectivo, popular, sintaxe próprio da fala
· Versificação livre e variedade estrófica
· Gosto pela quadra
· Democracia. Simpatia pelo povo
· Tom coloquial
· Exploração das noções de originalidade e de génio
· Subversão das formas clássicas
· Interesse pelo excepcional e desmedido, procura do particular e do diverso
· Interesse pelos anseios e enigmas profundos do homem; exaltação da energia criativa do sonho e da imaginação
· Confessionismo evidente
· Valorização do nacional e do popular, redescoberta do passado medieval.
Texto dramático
· Assente nas falas das personagens
· Poucas descrições
· Suporta-se na 2ª pessoa
· Tem como objectivo ser representado
· Plano textual (texto principal–falas; texto secundário–didascálias, indicações cénicas)
Destinatário: leitor (individual)
Espaço físico, tempo, personagens, acção
· Plano cénico
Destinatário: espectador (colectivo)
Cenário (espaço), tempo representativo a partir de elementos figurativos, actores que dão corpo e voz às personagens, representação (acção)
· Espaço no texto dramático:
Pouco elaborado (decorado) – rarefeito (elementos mínimos)
Pouco amplo
Concentração de espaço (de acordo com o palco)
Espaço único para cada acto
· “Narradores” – personagens que se encarregam de fazer referências de tempo/espaço e que contam aspectos que não foram representados.
Espaço
· Acto 1º
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.
Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.
· Acto 2º
Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertença a D. Madalena.
Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.
· Acto 3º
Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos próprios para uso religioso. É alta noite.
· Qual é o tratamento dado ao espaço no Frei Luís de Sousa?
Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da acção: vão surgindo acontecimentos que afectam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A acção caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço.
· Espaço social (costumes e mentalidades que definem uma época)
§ Características do palácio de D. Manuelà família da aristocracia
§ Madalena lendoà Sendo mulher, usufrui de educação
§ A existência de Telmo, Doroteia, Miranda
§ Maria lendo “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro
§ D. João servia ao lado de D. Sebastião
§ Pesteà população com más condições; a Almada não chega a peste devido à falta de comunicação
§ Os casamentos não eram feitos por amorà D. Madalena casa com D. João por obrigação
§ D. Madalena fica com tudo o que era de D. Joãoà os casamentos eram feitos com base na partilha
§ Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento
§ Más comunicações: um cativo na terra santa não consegue fazer saber-se que está vivo e a família também não o encontra
§ O marido funciona, muitas vezes, com pai da esposa, pois esta é muito mais nova que ele.
Tempo
· Informações temporais dadas através das falas das personagens
· Período vasto de tempo (21 anos) mas a acção representada tem apenas uma semana
· Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos
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Primeira sexta-feira (27 de Julho de 1599) à + 8 dias à Segunda sexta-feira (4 de Agosto de 1599) – HOJE (2º acto)
ò
5 de Agosto (consequências do hoje) - madrugada
· Em cena temos apenas duas partes de dois dias
· Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da batalha)
Tempo da acção
· Ao afunilamento do espaço corresponde uma concentração do tempo dum dia especial da semana: 6ª feira
· As principais cenas passam-se durante a noite.
Personagens
· Classificação de personagens:
· Relevo/desempenho à Personagem principal (impulsiona directamente o avanço da acção)
à Personagens secundárias
à Figurantes (não participam na acção mas estão directamente relacionados com o espaço social) (Doroteia, Prior de Benfica, Miranda, Arcebispo)
· Formação da personagem à Personagem modelada (a que se aproxima do modelo humano)
à Personagem plana (tem características que obedecem a um padrão)
à Personagem tipo (representativo de uma classe social)
· Todos os figurantes no Frei Luís de Sousa são tipo.
· No texto dramático predomina a caracterização indirecta (com base na actuação)
· Manuel de Sousa Coutinho (personagem principal e plana)
§ Nobre, cavaleiro de Malta
§ Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica
§ Racional
§ Bom marido e pai terno
§ Corajoso, audaz, decidido, patriota, nacionalista
§ Valores: pátria, família e honra
§ Excepções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico): cena do lenço de sangue/espectáculo excessivo do incêndio
· D. João de Portugal (personagem principal, plana e central)
§ Nobre (família dos Vimiosos)
§ Cavaleiro
§ Ama a pátria e o seu rei
§ Imagem da pátria cativa
§ Ligado à lenda de D. Sebastião
§ Nunca assume a sua identidade
§ Exemplo de paradoxo/contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da acção, está sempre presente.
· Telmo Pais (personagem secundária)
§ Escudeiro e aio de Maria
§ Tem dois amos: D. João e Maria
§ Confidente de D. Madalena
§ Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena)
§ Provoca a confidência das três personagens principais
§ Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João regressasse mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.
· Frei Jorge Coutinho (personagem secundária e plana)
§ Irmão de Manuel de Sousa
§ Ordem dos Dominicanos
§ Amigo da família
§ Confidente nas horas de angústia
§ É quem presencia as fraquezas de Manuel de Sousa
· D. Madalena de Vilhena (personagem principal e plana)
§ Nobre e culta
§ Sentimental
§ Complexo de culpa (nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel)
§ Torturada pelo remorso do passado
§ Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro
§ Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil
· D. Maria de Noronha (personagem principal e plana)
§ Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas
§ Precocemente desenvolvida, física e psicologicamente
§ Doente de tuberculose
§ Poderosa intuição e dotada do dom da profecia
§ Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro
§ Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo
§ A única vítima inocente
Etapas em Frei Luís de Sousa
· 1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das personagens (1º acto)
· 2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do segundo acto)
· 3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º acto)
· 4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a morte das 3 personagens (3º acto)
· Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal.
Características trágicas em Frei Luís de Sousa
· Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico pesado que ia interrompendo a acção para comentar o desenrolar da mesma e profetizar
· Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção
· A tragédia tem como objectivo provocar a piedade (pelas vítimas) e terror (por alguém que há-de vir dos mortos) nos espectadores
· Estrutura do desfecho:
Presságios
(vários elementos, situações ou ditos das personagens que vão aumentando a tragédia
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1 – Peripécia (momento em que o decorrer da acção é irremediavelmente invertido)à a chegada de alguém que trás notícias de D. João de Portugal
2 – Revelação (segredo/identidade que se revela)à o revelar da identidade do romeiro
3 – Catástrofe (morte violenta/final que vitima as personagens envolvidas)à morte figurada no caso de Manuel e Madalena e morte violenta de Maria.
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· No desfecho temos a presença do destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel
· Destino: força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se tornam indefesas
· Presságios: Fogo( destrói a família e destrói o retrato); Leituras ( Lusíadas e Menina e Moça)
· Phatos: crescente de aflição e de angústia que conduz ao clímax da acção através de uma precipitação de acontecimentos através dos presságios.
· Hybris: desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel)
· Clímax: auge do sofrimento
· Peripécias: mutação repentina da situação
· Anagnorisis: reconhecimento ou constatação dos motivos trágicos
· Moira ou fatum: força do destino
· Catástrofe: desfecho trágico
· Leitura simbólica de Frei Luís de Sousa:
§ Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a sentimentos de terror e parte escura do dia); os números:
ü 7 à nº de anos de busca
ü 14 à tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7)
ü 21 à tempo da acção
ü 13 à nº de azar, idade de Maria
ü 3 à nº de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos retratos.
§ Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto à tirania, defesa dos valores da pátria.
ü Incêndio à símbolo patriótico
ü A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da família é a destruição da pátria governada pelos estrangeiros.
ü Oposição entre D. Manuel e D. João à entre Portugal velho e ultrapassado e o novo e actual que se pretende (Manuel)
Características românticas em Frei Luís de Sousa
· Narcisismo/ hipertrofia do eu: as personagens dão construídas a partir de uma projecção. Almeida Garrte transporta o seu problema de amor para D. Madalena e transporta o problema da filha ilegítima para Maria
· Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da acção passa-se essencialmente à noite ou de madrugada.
· Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria
· Nacionalismo/ patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa
· Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada
· Religiosidade
· Mitos/superstição
· Infracção e pecado
· Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide o que há-de fazer porque a sociedade aponta Maria como filha do pecado, o 1º casamento seria inválido
· Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infracção à religião e costumes e o destino castiga essa acção. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino? Tudo o que fará por escolha própria estará sujeito a castigo por parte do destino?
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