quinta-feira, 16 de outubro de 2014

FREI LUIS DE SOUSA

Romantismo
·        Primado dos valores do sentimento e da sensibilidade;
·        Individualismo
·        Hipertrofia do eu: Egocentrismo
·        Inspiração livre
·        Arte desligada de valores éticos, utilitários e sociais. Autonomia dos valores estéticos
·        Arrebatamentos, exaltação desmedida, espontaneidade
·        Nacionalismo
·        Homem indisciplinado, revoltado, irrequieto, pessimista
·        Homem que procura a evasão do real: no espaço – fuga para locais que representem qualquer coisa de exótico/diferente; no tempo – fuga para o passado (nomeadamente para épocas histórias em especial para a idade média)
·        Homem revoltado contra a sociedade, perdido do seu eu
·        Culto da mulher-anjo (frágil, pura, vestida de branco) ou então da mulher-demónio (leva os homens à perdição).
·        Amor sentimental e sensorial
·        Natureza espontânea, selvagem, sombria, melancólica
·        Preferência pelas horas sombrias ou crepusculares ou da noite
·        Preferência pelas personagens imperfeitas
·        Vocabulário familiar, afectivo, popular, sintaxe próprio da fala
·        Versificação livre e variedade estrófica
·        Gosto pela quadra
·        Democracia. Simpatia pelo povo
·        Tom coloquial
·        Exploração das noções de originalidade e de génio
·        Subversão das formas clássicas
·        Interesse pelo excepcional e desmedido, procura do particular e do diverso
·        Interesse pelos anseios e enigmas profundos do homem; exaltação da energia criativa do sonho e da imaginação
·        Confessionismo evidente
·        Valorização do nacional e do popular, redescoberta do passado medieval.
Texto dramático
·        Assente nas falas das personagens
·        Poucas descrições
·        Suporta-se na 2ª pessoa
·        Tem como objectivo ser representado

·        Plano textual (texto principal–falas;  texto secundário–didascálias, indicações cénicas)
Destinatário: leitor (individual)
Espaço físico, tempo, personagens, acção
·        Plano cénico
Destinatário: espectador (colectivo)
Cenário (espaço), tempo representativo a partir de elementos figurativos, actores que dão corpo e voz às personagens, representação (acção)
·        Espaço no texto dramático:
Pouco elaborado (decorado) – rarefeito (elementos mínimos)
Pouco amplo
Concentração de espaço (de acordo com o palco)
Espaço único para cada acto 
·        Narradores” – personagens que se encarregam de fazer referências de tempo/espaço e que contam aspectos que não foram representados.
Espaço
·        Acto 1º
Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada.
Câmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XII. É, pois, um espaço sem grades, amplamente aberto para o exterior, onde as personagens ainda gozam a liberdade de se movimentarem guiadas pela sua vontade própria. Através das grandes janelas rasgadas domina-se uma paisagem vasta. – É o fim da tarde.

·        Acto 2º
Palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada, que agora pertença a D. Madalena.
Salão antigo de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro; estão em lugar de destaque o de el-rei D. Sebastião, o de Camões e o de D. João de Portugal. Portas do lado direito para o exterior, do esquerdo para o interior, cobertas de reposteiros com as armas dos Condes de Vimioso. Deixa de haver janelas e as portas, ainda no plural, são já mais destinadas a cercar as personagens que a deixá-las escapar.

·        Acto 3º
Parte baixa do Palácio de D. João de Portugal, comunicando pela porta à esquerda do espectador, com a capela da Senhora da Piedade na Igreja de S. Paulo dos Domínicos de Almada: é um casarão sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos, escadas, tocheiras, cruzes e outros objectos próprios para uso religioso. É alta noite.

·        Qual é o tratamento dado ao espaço no Frei Luís de Sousa?
Progressão em termos negativos. Há um afunilamento quer a nível de luz, decoração ou amplitude. Ou seja, vai evoluindo no sentido da acção: vão surgindo acontecimentos que afectam a vida normal familiar e que culmina com a morte de Maria. A acção caminha no sentido da destruição, a par do tratamento que vai sendo dado ao espaço.

·        Espaço social (costumes e mentalidades que definem uma época)
§         Características do palácio de D. Manuelà família da aristocracia
§         Madalena lendoà Sendo mulher, usufrui de educação
§         A existência de Telmo, Doroteia, Miranda
§         Maria lendo “Menina e Moça” de Bernardim Ribeiro
§         D. João servia ao lado de D. Sebastião
§         Pesteà população com más condições; a Almada não chega a peste devido à falta de comunicação
§         Os casamentos não eram feitos por amorà D. Madalena casa com D. João por obrigação
§         D. Madalena fica com tudo o que era de D. Joãoà os casamentos eram feitos com base na partilha
§         Maria é uma filha ilegítima por ser filha de um segundo casamento
§         Más comunicações: um cativo na terra santa não consegue fazer saber-se que está vivo e a família também não o encontra
§         O marido funciona, muitas vezes, com pai da esposa, pois esta é muito mais nova que ele.
Tempo
·        Informações temporais dadas através das falas das personagens
·        Período vasto de tempo (21 anos) mas a acção representada tem apenas uma semana
·        Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos
ò
Primeira sexta-feira (27 de Julho de 1599) à + 8 dias à Segunda sexta-feira (4 de Agosto de 1599) – HOJE   (2º acto)
ò
5 de Agosto (consequências do hoje) - madrugada
·     Em cena temos apenas duas partes de dois dias
·    Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da batalha)
Tempo da acção
·    Ao afunilamento do espaço corresponde uma concentração do tempo dum dia especial da semana: 6ª feira
·    As principais cenas passam-se durante a noite.
Personagens
·        Classificação de personagens:

·        Relevo/desempenho           à Personagem principal (impulsiona directamente o avanço da acção)
à Personagens secundárias
à Figurantes (não participam na acção mas estão directamente relacionados com o espaço social) (Doroteia, Prior de Benfica, Miranda, Arcebispo)

·        Formação da personagem  à Personagem modelada (a que se aproxima do modelo humano)
 à Personagem plana (tem características que obedecem a um padrão)
à Personagem tipo (representativo de uma classe social)

·        Todos os figurantes no Frei Luís de Sousa são tipo.
·        No texto dramático predomina a caracterização indirecta (com base na actuação)
·        Manuel de Sousa Coutinho  (personagem principal e plana)
§         Nobre, cavaleiro de Malta
§         Construído segundo os parâmetros do ideal da época clássica
§         Racional
§         Bom marido e pai terno
§         Corajoso, audaz, decidido, patriota, nacionalista
§         Valores: pátria, família e honra
§         Excepções ao equilíbrio (momentos em que Manuel foge ao modelo clássico e tende para o romântico): cena do lenço de sangue/espectáculo excessivo do incêndio
·        D. João de Portugal  (personagem principal, plana e central)
§         Nobre (família dos Vimiosos)
§         Cavaleiro
§         Ama a pátria e o seu rei
§         Imagem da pátria cativa
§         Ligado à lenda de D. Sebastião
§         Nunca assume a sua identidade
§         Exemplo de paradoxo/contradição: personagem ausente mas que, no desenrolar da acção, está sempre presente.
·        Telmo Pais  (personagem secundária)
§         Escudeiro e aio de Maria
§         Tem dois amos: D. João e Maria
§         Confidente de D. Madalena
§         Chama viva do passado (alimenta os terrores de D. Madalena)
§         Provoca a confidência das três personagens principais
§         Considerado personagem modelada num momento: durante anos, Telmo rezou para que D. João regressasse mas quando este voltou quase que desejou que se fosse embora.
·        Frei Jorge Coutinho (personagem secundária e plana)
§         Irmão de Manuel de Sousa
§         Ordem dos Dominicanos
§         Amigo da família
§         Confidente nas horas de angústia
§         É quem presencia as fraquezas de Manuel de Sousa
·        D. Madalena de Vilhena  (personagem principal e plana)
§         Nobre e culta
§         Sentimental
§         Complexo de culpa (nunca gostou de D. João, mas sim de D. Manuel)
§         Torturada pelo remorso do passado
§         Ligada à lenda dos amores infelizes de Inês de Castro
§         Apaixonada, supersticiosa, pessimista, romântica (em termos de época), sensível, frágil
·        D. Maria de Noronha  (personagem principal e plana)
§         Nobre: sangue dos Vilhenas e dos Sousas
§         Precocemente desenvolvida, física e psicologicamente
§         Doente de tuberculose
§         Poderosa intuição e dotada do dom da profecia
§         Encarnação da Menina e Moça de Bernardim Ribeiro
§         Modelo da mulher romântica: a mulher-anjo
§         A única vítima inocente
Etapas em Frei Luís de Sousa
·        1ª Etapa: D. João existe apenas no domínio psicológico das personagens (1º acto)
·        2ª Etapa: D. João torna-se visível no retrato (início do segundo acto)
·        3ª Etapa: D. João chega na forma de Romeiro (final do 2º acto)
·        4ª Etapa: Embora não esteja presente é D. João que provoca a morte das 3 personagens  (3º acto)
·        Em nenhuma altura temos D. João assumido como tal.

Características trágicas em Frei Luís de Sousa
·        Existência de personagens com o papel de confidentes (personagens que existem para que as outras personagens digam o que sentem) e coro (conjunto de pessoas que cantava um cântico pesado que ia interrompendo a acção para comentar o desenrolar da mesma e profetizar
·        Existência da regra das três unidades: tempo, espaço e acção
·        tragédia tem como objectivo provocar a piedade (pelas vítimas) e terror (por alguém que há-de vir dos mortos) nos espectadores
·        Estrutura do desfecho:

Presságios
(vários elementos, situações ou ditos das personagens que vão aumentando a tragédia


ð
1 – Peripécia (momento em que o decorrer da acção é irremediavelmente invertido)à a chegada de alguém que trás notícias de D. João de Portugal
2 – Revelação (segredo/identidade que se revela)à o revelar da identidade do romeiro
3 – Catástrofe (morte violenta/final que vitima as personagens envolvidas)à morte figurada no caso de Manuel e Madalena e morte violenta de Maria.
·        No desfecho temos a presença do destino como castigo do amor de D. Madalena por D. Manuel
·        Destino: força superior que transcende a vontade das personagens e perante a qual as personagens se tornam indefesas
·        Presságios: Fogo( destrói a família e destrói o retrato); Leituras ( Lusíadas e Menina e Moça)
·        Phatos: crescente de aflição e de angústia que conduz ao clímax da acção através de uma precipitação de acontecimentos através dos presságios.
·        Hybris: desafio lançado aos deuses ou às autoridades (atitude de D. Madalena ao casar com D. Manuel)
·        Clímax: auge do sofrimento
·        Peripécias: mutação repentina da situação
·        Anagnorisis: reconhecimento ou constatação dos motivos trágicos
·        Moira ou fatum: força do destino
·        Catástrofe: desfecho trágico
·        Leitura simbólica de Frei Luís de Sousa:
§         Tragédia – sexta-feira (dia de azar); a noite (parte do dia propícia a sentimentos de terror e parte escura do dia); os números:
ü          à nº de anos de busca
ü          14 à tempo de casamento (7 reforçado, 14=2x7)
ü          21 à tempo da acção
ü          13 à nº de azar, idade de Maria
ü          à nº de elementos da família sujeitos à destruição, 3 retratos na sala dos retratos.
§         Pátria – atitudes de Manuel de Sousa que se podem resumir num protesto à tirania, defesa dos valores da pátria.
ü          Incêndio à símbolo patriótico
ü          A família pode ser vista como a unidade da pátria, a destruição da família é a destruição da pátria governada pelos estrangeiros.
ü          Oposição entre D. Manuel e D. João à entre Portugal velho e ultrapassado e o novo e actual que se pretende (Manuel)

Características românticas em Frei Luís de Sousa
·        Narcisismo/ hipertrofia do eu: as personagens dão construídas a partir de uma projecção. Almeida Garrte transporta o seu problema de amor para D. Madalena e transporta o problema da filha ilegítima para Maria
·        Preferência pelas horas sombrias: o desenrolar da acção passa-se essencialmente à noite ou de madrugada.
·        Culto da mulher-anjo: na personagem de Maria
·        Nacionalismo/ patriotismo: nas atitudes de Manuel de Sousa
·        Preferência por personagens imperfeitas: D. Madalena que se apaixonou ainda casada
·        Religiosidade
·        Mitos/superstição
·        Infracção e pecado
·        Individualismo versus sociedade: Manuel de Sousa Coutinho decide o que há-de fazer porque a sociedade aponta Maria como filha do pecado, o 1º casamento seria inválido
·        Liberdade versus destino: Ao escolher o amor, D. Madalena comete uma infracção à religião e costumes e o destino castiga essa acção. Será então o homem livre ou será dominado pelo destino? Tudo o que fará por escolha própria estará sujeito a castigo por parte do destino?

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