domingo, 30 de novembro de 2014

Luís de Sttau Monteiro

Ficcionista, autor dramático, encenador e jornalista português, formado em Direito, Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu a 3 de abril de 1926, em Lisboa, e morreu, também nesta cidade, a 23 de julho de 1993. De ascendência espanhola, viveu uma parte da adolescência em Inglaterra, onde o seu pai foi embaixador.
Nos anos 70 do século XX, desenvolveu atividade como jornalista, tendo colaborado com o Diário de Notícias e com o Expresso e, na década seguinte, dirigido Confidencial (1984) e colaborado como guionista de uma novela televisiva.
Iniciou a sua carreira literária com a narrativa Um Homem Não Chora, obra saudada como uma revelação da ficção portuguesa contemporânea, a que se seguiu um romance de grande êxito, Angústia para o Jantar, onde se salientam a "ironia, o gosto pela sátira, a distanciação emocional, o cinismo [...] e, no plano estilístico, a vivacidade dos diálogos." (FERREIRA, António Mega - "Um Homem e a Sua Obra", introdução a Angústia para o Jantar, Círculo de Leitores, s/l, 1986, p. VIII).
Situado numa segunda geração neorrealista, foi sobretudo pela sua obra dramática que viria a ser consagrado, recebendo com Felizmente Há Luar!, em 1962, o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores. Essa peça histórica, que recorda a rebelião do general Gomes Freire de Andrade, foi proibida pela censura tendo sido representada no nosso país apenas em 1978.
As suas sátiras sobre a ditadura e a Guerra Colonial, fruto do seu espírito crítico e combativo, tornaram-no objeto de perseguição política, chegando mesmo a ser preso como quando publicou A Estátua e A Guerra Santa.
Embora levadas à cena por companhias estrangeiras, poucas peças de Luís de Sttau Monteiro foram representadas em Portugal antes do 25 de abril, excetuando-se As Mãos de Abraão Zacut, estreada em 1969 pela Companhia do Teatro Estúdio de Lisboa, sob a direção de Luzia Maria Martins.
Homem essencialmente de teatro, Sttau Monteiro foi ainda autor de uma adaptação da novela O Barão, de Branquinho da Fonseca, e de várias traduções de autores dramáticos como Shakespeare ou Ibsen, que ele próprio levou à cena.

sábado, 29 de novembro de 2014

Texto épico

O texto épico (do grego epos, canto ou narrativa) diz respeito à composição narrativa, em verso ou prosa, que, em estilo elevado, canta uma ação heroica passada. Celebra uma ação grandiosa ou uma série de grandes acontecimentos históricos.
Desde a antiguidade, o texto épico recebe o nome de Epopeia, quando constitui uma narrativa, geralmente numa estrutura de poema, que traduz as façanhas ou o espírito de um povo e que tem interesse para esse povo e para a Humanidade. Reporta-se ao tempo do mito, quando o homem não adquirira ainda a plena consciência de si como indivíduo. Entre as epopeias, merecem destaque o Gilgamesh babilónico, Ramayana e Mahabharata, da literatura pós-védica, a Ilíada e a Odisseia, de Homero, a Eneida, de Virgílio, Divina Comédia, de Dante, Jerusalém Libertada, de Tasso, eO Paraíso Perdido, de Milton, ou Os Lusíadas, de Camões.
O texto épico, talvez anterior à escrita, encontra-se já nas designadas "altas culturas primárias" da China, da Índia, do Egito e da Babilónia. Aí possuem uma estreita relação com as fórmulas rituais e o espírito religioso dos povos primitivos. Mas são as lendas seculares e as tradições ancestrais que melhor serviram, na antiguidade, a literatura épica e heroica.
Há ainda o texto herói-cómico que, em elevado tom épico, celebra acontecimentos insignificantes e, por vezes, ridiculariza enredos e personagens.
Hoje, o termo épico surge, muitas vezes, associado a filmes ou outros textos narrativos (o romance, a novela, o conto, a crónica...) que tratam da história de um povo.
A maioria das epopeias, como Os Lusíadas, apresenta na estrutura externa a forma narrativa em verso e uma divisão em cantos. A estrutura interna tem uma divisão em Proposição (apresentação do assunto), Invocação (súplica da inspiração para escrever o Poema), Dedicatória (oferecimento da obra a um Rei, protetor ou povo) e Narração (desenvolvimento do assunto). Na Narração, é possível referir o Epílogo ou fechamento da epopeia, com a consagração dos heróis. Em "Os Lusíadas", por exemplo, o regresso dos nautas com o episódio da Ilha dos Amores constitui o Epílogo.
A ação do texto épico contém sempre um herói e deve, em geral, apresentar um elemento chamado "maravilhoso", com a intervenção de seres sobrenaturais, como as divindades da mitologia e o Deus dos Cristãos ou a intervenção da feitiçaria, da magia, de crenças populares.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Texto dramático

texto dramático
O texto dramático é entendido como aquele que se integra na forma literária do drama e implica uma comunicação direta das personagens entre si e com os recetores do enunciado. O texto dramático privilegia a dinâmica do conflito, tentando representar as ações e reações humanas, pela tragédia, pela comédia e pelo drama (propriamente dito), graças à presença das personagens.
Serve, com frequência, o teatro, que tem como objetivo específico a representação e o espetáculo. Por isso o texto teatral obriga à concentração dos elementos essenciais do texto dramático em linhas de força que garantam um ritmo vivo e uma progressão capaz de prender a atenção do espectador. O teatro permite uma comunicação específica entre autor, ator e público; entre as personagens da obra; entre o palco e a plateia. O conflito ou o drama oferece-se à contemplação do espectador
O texto dramático, onde predomina a função apelativa da linguagem, ao exprimir o mundo exterior e objetivo, recorre, em geral, à enunciação na segunda pessoa. E utiliza um discurso múltiplo e complexo, com os respetivos signos linguísticos, mas também com signos paralinguísticos (entoação, voz...), expressão corporal, elementos de caracterização dos atores, ou mesmo elementos que se encontram fora do ator, como o espaço cénico e os efeitos sonoros.

categorias do texto dramático
São categorias do texto dramático a ação, com a sucessão e encadeamento de acontecimentos que podem conduzir a um desenlace; as personagens, que são os agentes da ação; o espaço que corresponde ao lugar, ambiente, meio social ou cultural onde se desenrola a ação; e o tempo que dá conta do momento do desenrolar da ação.
A estrutura da ação pode ser interna ou externa. A primeira dá-nos os momentos determinantes e divide-se em exposição(apresentação de personagens e dos antecedentes da ação), conflito (conjunto de peripécias, de acontecimentos que fazem impulsionar a ação, conduzindo ao seu ponto culminante, ao clímax) e desenlace (desfecho da ação dramática). A segunda apresenta a divisão em atos (divisão do texto dramático que corresponde à mudança de cenários) e cenas ouquadros (divisão do ato que corresponde à entrada ou saída de uma ou mais personagens).
As personagens, que na antiguidade grega usavam máscaras para permitir a diferenciação de papéis e distinguir a personagem da pessoa do ator, podem distinguir-se quanto ao relevo ou papel desempenhado como principais ouprotagonistas (exercem uma função relevante, com a ação a decorrer à sua volta), secundárias (participam na ação sem um papel decisivo) e figurantes (não intervêm diretamente na ação, servindo apenas para funções decorativas); podem, também, ser individuais ou singulares e coletivas. Quanto à composição ou conceção e formulação, as personagens definem-se como modeladas ou redondas (com capacidade de alterarem o comportamento ao longo da ação), planas(sem alteração do comportamento ao longo da ação, nem evolução psicológica) e tipos (representantes de um grupo profissional ou social). Em relação aos processos de caracterização, esta pode ser directa por autocaracterização (através das palavras da própria personagem) e heterocaracterização (através dos elementos fornecidos por outras personagens ou pelo dramaturgo através das didascálias) ou indiretas (deduzida a partir das atitudes, dos gestos, dos comportamentos e dos sentimentos da personagem ou a partir dos símbolos que as acompanham).
Do espaço distingue-se o cénico (lugar onde se movem as personagens e que recria o ambiente possível do desenrolar da ação dramática, graças à luz, ao som, ao guarda-roupa, aos adereços, à encenação), o espaço de representação - o palco - (lugar onde decorre o espetáculo teatral), o espaço representado (ambiente recriado pelos atores, interligado à ação e ao espaço cénico) e o espaço aludido (lugares referenciados, diferentes dos representados).
Sobre o tempo, convém separar o tempo de representação (curto e necessário para a apresentação do conflito, para o desenrolar dos acontecimentos e para o desenlace do tempo de representado (correspondente ao tempo da ação ou à época retratada, recriada pelos atores).

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Os Lusíadas e Mensagem



A Mensagem não é um “poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética dos Lusíadas”. O que seria uma exaltação de valores nacionais converteu-se numa exortação renovadora e corajosa a D. Sebastião (vivo – Lusíadas – ou como mito – Mensagem).Os Lusíadas foram dedicados a um povo guerreiro e a um Rei aventureiro, em A Mensagem, esse mesmo Rei está humilhado e despido de coisas humanas, por isso, consideramos que toda a História, toda alegria, toda emoção, toda aventura e toda glória descrita, em Os Lusíadas constitui uma esperança e em A Mensagem, um sonho, uma utopia, “Sem a loucura que é o homem/mais que a besta sadia,/cadáver adiado que procria?”(Mensagem). Como Prado Coelho afirmou, “Em contraste com o realismo d’Os Lusíadas (…) A Mensagem reage pela altiva rejeição a um «Real» oco, absurdo, intolerável, propondo-nos em seu lugar a única coisa que vale a pena: o imaginário.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Reflexões do poeta

Os Lusíadas são uma epopeia na qual se reflecte o optimismo do Renascimento, crente nas capacidades do Homem. Por isso, o herói liberta-se da sua pequenez humana de "bicho da Terra" e, através da ousadia e da coragem, ascende a um estádio superior, digno dos deuses.
No entanto, não é apenas esta visão optimista do Homem  aquela que está patente na obra. A verdade é que, a par da glorificação dos heróis que fizeram grande a Pátria e o Homem e devem , por isso, servir de exemplo, está presente um desencanto e um pessimismo do poeta que olha para o Portugal seu contemporâneo com tristeza, nostalgia e desalento. Não podemos esquecer que Camões publicou Os Lusíadas, 74 anos depois da viagem de Vasco da Gama, num momento em que o império português estava já em decadência e um futuro negro se pressentia.
Esse pessimismo está patente sobretudo nas reflexões do final dos Cantos.
O poeta apresenta-se, nas suas reflexões, como guerreiro e poeta a quem não "falta na vida honesto estudo; com longa experiência misturado" (C. X, 154). Um poeta que, ainda que perseguido pela sorte e desprezado pelos seus contemporâneos, assume o papel humanista de intervir, de forma pedagógica, na vida contemporânea. Por isso:
  • critica a ignorância e o desprezo pela cultura revelados pelos homens de armas (C. V);
  • denuncia o desprezo pelo bem comum, a ambição desmedida, o poder exercido com tirania, a hipocrisia dos aduladores do Rei, a exploração do povo (C. VII);
  • denuncia o poder corruptor do ouro (C. VIII);
  • propõe um modelo humano ideal de "Heróis esclarecidos" que terão ganhado o direito de ser na "Ilha de Vénus recebidos" (C. IX, 95);
  • ergue-se contra o adormecimento da Pátria, metida "No gosto da cobiça e na rudeza / Duma austera, apagada e vil tristeza". (C. X, 145).
Mas, o poema, acima de tudo, evidencia a grandeza do passado de Portugal: um pequeno povo que cumpriu, ao longo da sua História, a missão de dilatar a Cristandade, que abriu novos rumos ao conhecimento, que mostrou a capacidade do Homem de concretizar o sonho.
Ao cantar o heroísmo do passado, o poeta pretende mostrar aos seus contemporâneos a falta de grandeza do Portugal presente, e incentivar o Rei a conduzir os Portugueses para um futuro de novo glorioso, para uma nova era de orgulho nacional.


Canto I - Reflexão sobre a fragilidade da condição humana

As traições e perigos a que os navegadores estão sujeitos justificam o desabafo do poeta sobre a fragilidade da condição humana, que submete o Homem a inúmeros e permanentes perigos.
Não será por acaso que esta reflexão surge no final do Canto I, quando o herói ainda tem um longo e penoso caminho a percorrer. Ver-se-á, no Canto X, até onde a ousadia, a coragem e o desejo de ir sempre mais além podem levar o "bicho da terra tão pequeno", tão dependente da fragilidade da sua condição humana.




Canto VI - Reflexão sobre o verdadeiro e árduo caminho da fama e da glória

Continuando a exercer a sua função pedagógica, o poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo da virtude renascentista. Segundo este modelo, a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros. Não se é nobre por herança, permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar de relevo.





Canto VIII - Crítica ao poder do dinheiro

O poeta enumera os efeitos perniciosos do ouro que provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência, condiciona as leis, dá origem a difamações e à tirania dos reis, corrompe até os sacerdotes, sob a aparência da virtude. Retomando a função pedagógica do seu canto, o poeta aponta o dedo à sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas.

domingo, 23 de novembro de 2014

Género épico-lírico

A Mensagem é uma obra épico-lírica, pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.

sábado, 22 de novembro de 2014

Justificação do titulo da obra

O título original do livro era Portugal. Influenciado por um amigo, Pessoa considera "Mensagem" um título mais apropriado, pelo nome "Portugal" se encontrar "prostituído" no mais comum dos produtos. Pessoa gosta da palavra "mensagem" a partir da expressão latina: Mens agitat molem, isto é, "A mente comanda o corpo", frase da história de Eneida, de Virgílio, dita pela personagem Anquises quando explica a Enéias o sistema do Universo. Pessoa não utiliza o sentido original da frase, que denotava a existência de um princípio universal de onde emanavam todos os seres.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Simbologia-"Mensagem"


Simbologia




O próprio poeta afirmou que a sua obra se encontrava repleta de símbolos que contribuem para a sua significação. Enunciam-se aqueles que perpassam os 44 poemas que constituem a Mensagem e que assumem um espaço privilegiado, quer pela sua recorrência, quer pela carga simbólica que detêm.


O Mar
É evidente que o mar foi o espaço físico efectivamente percorrido pelos portugueses, que desbravaram a sua imensidão, superando as crenças da época e descobrindo novas realidades.
Contudo, este espaço adquire um significado simbólico na obra. Ou seja, o que está em causa não é este elemento material, mas o que ele representa, ao nível da conquista humana em direcção ao Conhecimento.
Com efeito, o mar aponta para um dinamismo próprio - o das transformações. Pelo movimento das suas águas, ele possibilita a imagem da transitoriedade, indiciando realidades distintas. Então, o vaivém das águas conduz à imagem da vida e da morte (pela visualização da partida e da chegada das ondas). O mar é, pois, um espaço iniciático, isto é, trata-se do local onde o ser humano iniciou o seu percurso, visando obter uma transformação, quer no seu próprio interior, quer ao nível das experiências, entretanto adquiridas e que lhe proporcionaram atingir uma outra dimensão na escala da sabedoria humana. O mar contém, por outro lado, o reflexo do céu - e, para Pessoa, espelha-se nele a vontade divina.


As Ondas
As ondas ligam-se metonimicamente ao mar, mas representam, sobretudo, a passividade, a inércia, uma vez que são arrastadas por uma força que está para além delas. É nesta perspectiva que, na obra Mensagem, elas aparecem como projecção do inconsciente humano, que pode, igualmente, ser desperto por uma força superior e cuja natureza ultrapassa a sua condição.
As ondas são, assim, como uma espécie de espaço-matriz onde as situações se podem desenvolver, iniciando novos processos e novas fases da existência.



A Terra
A Terra aparece como uma projecção do céu e representa o seu princípio passivo, isto é, funciona como receptáculo da vontade de Deus (a sua simbologia é, neste sentido, semelhante à das ondas). Mas a Terra é também um espaço de recompensa; é o porto que espera os portugueses, após um longo período de viagem marítima. E a sua dimensão, enquanto símbolo materno, surge nesta perspectiva - o regresso à terra é o regresso ao elemento natural e natal do ser humano. Alargando esta ideia, Pessoa revela, na sua obra, a ideia de uma Terra que concentra os valores simbólicos - trata-se da efectivação de um mundo onde Terra e Céu sejam, de facto, espelhos um do outro, numa perspectiva bidireccional, pois a Terra seria, após a purificação humana e a instauração da fraternidade universal, uma imagem do paraíso mítico, que perpassa em inúmeras produções literárias.




A Ilha
Metonimicamente associada à terra, a ilha concentra, porém, de forma enfática, alguns dos seus aspectos simbólicos.
Pelo seu difícil acesso, ela representa um centro espiritual e primordial. Com efeito, é necessário sabedoria e passar por algumas provações (é o caso dos navegadores portugueses) para a alcançar. Local paradisíaco, onde impera a paz, ela situa-se no domínio do sagrado, longe das massas profanas. Surge, de igual forma, como uma recompensa, como uma conquista, como um prémio merecido, após as tormentas. A ilha significa a promessa de felicidade na terra.




O Campo
"Os Campos" é o título atribuído por Fernando Pessoa à primeira parte dos poemas incluídos em "Brasão", que se intitulam, respectivamente, "O dos Castelos" e "O das Quinas". Este espaço adquire aqui a mesma simbologia da terra, enquanto princípio passivo, que permite a acção. Encontramos igualmente, neste contexto, a ligação do campo à dominante feminina, ou seja, trata-se de um espaço de vida, associado à fecundidade e ao alimento - a obra realizada pelo povo português é, também, sinónimo de vida.




As Quinas
As quinas são o símbolo das chagas de Cristo, o Deus feito homem, o Filho eleito para, apesar da sua componente material, a carne, significar a diferença, pelo cumprimento da vontade divina. Cristo é a imagem do sofrimento, para atingir a redenção dos pecados humanos, isto é, é Aquele que eleva o seu lado espiritual a uma dimensão que supera a condição humana, lutando por um Destino que se situa para além da compreensão dos homens e dos seus desejos vãos. No terceiro bloco da primeira parte, intitulado "As Quinas", encontramos os poemas "D. Duarte, Rei de Portugal", "D. Fernando, Infante de Portugal", "D. Pedro, Regente de Portugal", "D. João, Infante de Portugal" e "D. Sebastião, Rei de Portugal". Todas estas figuras históricas são apresentadas como seres cumpridores de um desejo de Deus, realizado através das suas próprias vidas. Elas unificam a "febre do Além" e são parcelas da essência divina depositada na alma humana.




O Castelo
"O dos Castelos" é o título do primeiro poema da obra Mensagem, incluído no primeiro bloco, com a designação "Os Campos" e "Os Castelos" é o título do segundo bloco de poemas incluídos nesta primeira parte. A simbologia do castelo prende-se com a da casa, refúgio onde se realizam os desejos humanos. Pela protecção que oferecem e por se situarem num local elevado, são um espaço de intimidade e de espiritualidade. Ligam-se, por este facto, à transcendência (Jerusalém celeste, cidade da Perfeição, é representada por alguns pintores como um castelo, no cimo de uma montanha). Nesta obra, o castelo remete, igualmente, para a própria fundação da nacionalidade (ligando-se ao símbolo do brasão). Assim, as figuras históricas portuguesas têm um papel importante, não só ao nível da construção do país, como em relação à construção de uma obra divina, cujos indícios são dados aos homens através da acção dos portugueses.




O Timbre
"O Timbre" é o título do quinto bloco de poemas que constitui a primeira parte da obra e que refere o Infante D. Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque.
Este elemento é o símbolo do poder e da posse legítima. Liga-se também à ideia de segredo. O timbre é, pois, um sinal, uma marca, dada por Deus, que assegura ao ser humano a ascensão a mundos superiores, através do conhecimento (o Infante D. Henrique surge como um ser marcado por esse destino superior - ele" Tem aos pés o mar e as mortas eras" e é" O único imperador que tem deveras l O globo mundo em sua mão"). O poder é aquilo que une o ser humano a Deus, porque esse poder é um reflexo da vontade divina.




O Grifo
Nos três poemas que constituem o final da primeira parte da obra, "Brasão", podemos ler os seguintes títulos: "A Cabeça do Grypho/O Infante D. Henrique", "Uma Asa do Grypho/D. João, o Segundo", "A Outra Asa do Grypho/Afonso de Albuquerque" .
O grifo é um animal mítico com bico e asas de águia e corpo de leão.
Assim, ele simboliza a união de duas naturezas: a humana e a divina. Pela sua forma de leão, liga-se à terra; pelas suas características de águia e pelo seu poder de ascensão, remete para o céu. É neste sentido que este animal se associa à própria natureza de Cristo, que também apresenta esta dupla união com a terra e o céu. A sua simbologia aponta para a construção de uma obra de carácter divino realizada pelos humanos. O Infante O. Henrique simboliza a sabedoria que permite a criação (ele é a cabeça do grifo); D. João II e Afonso de Albuquerque (as asas do grifo) significam a conquista de um estádio além-humano, pela sua dimensão espiritual e pelo conhecimento de que são detentores. As asas traduzem uma dissociação em relação ao elemento terrestre e a união à força e inteligência puras, enquanto emanações divinas.
O grifo é, aqui, o símbolo da condição de herói.



A Nau
A nau simboliza a viagem interior, as provações, o caminho a percorrer em, direcção ao heroísmo. Está ligada à iniciação, que pressupõe a morte, para se dar lugar a um novo ser. Com efeito, o indivíduo inicia uma nova fase da sua existência, na qual procura uma comunhão com o sagrado. Na obra Mensagem, as naus portuguesas conduziram à aquisição do conhecimento de novos mundos e de novas gentes, elevando os navegadores à condição de heróis. É esse estádio que Fernando Pessoa deseja para os portugueses do século XX.



A Noite
"Noite" é o título do primeiro poema incluído no bloco "Os Tempos" (na terceira parte da obra). A noite é o símbolo da morte, da ausência de manifestações. Na obra em causa, simboliza o tempo em que o poeta viveu, o século XX, um tempo de inércia, caótico, ao qual deverá suceder-se a luz, ou seja, a vida. A noite implica a hipótese de renascimento, a reconquista de um espaço espiritual perdido, a hipótese de acção dos portugueses, depois de um período de inacção.



Manhã
A simbologia da manhã encontra-se no penúltimo poema da Mensagem, no poema intitulado "Antemanhã". Neste texto, é o Mostrengo que interpela os portugueses, no sentido de os fazer acordar do seu sono letárgico, de modo a poderem reconquistar a glória perdida. Este período do dia significa a harmonia entre os seres humanos. É um tempo de luz, de vida, de promessa e de felicidade.



Nevoeiro (O Encoberto)
A simbologia do Encoberto (D. Sebastião) liga-se à do nevoeiro (aliás, o título do último poema da obra Mensagem). A este associa-se a indefinição, a indiferenciação das formas e, simultaneamente, a hipótese de revelação de novas realidades. É esta promessa de uma nova existência que determina o valor simbólico do nevoeiro, associado à esperança e à regeneração.
D. Sebastião é o Encoberto, cujo carácter messiânico perpassa através de toda a obra - ele é visto como o Messias, isto é, como aquele que irá salvar Portugal, restituindo-lhe as glórias do passado, assim como a capacidade de realizar, na Terra, aquilo que Deus representa enquanto força criadora, reunificando o Homem e Deus num só núcleo de significação existencial.




O Graal
De origem celta e anterior ao cristianismo, o Graal simboliza o dom da vida e a espiritualidade. Na literatura medieval, aparece igualmente associado a Cristo, que morreu para salvar a humanidade e cuja representação é o cálice utilizado na celebração da santa eucaristia, em que o vinho simboliza o sangue derramado por Cristo, para salvação dos pecados humanos. A demanda do Santo Graal, por outro lado, exigia pureza e persistência da parte daquele que a empreendia. Esta procura corresponde, fundamentalmente, a um amadurecimento interior progressivo, com vista à obtenção de um estado de perfeição cada vez maior, pois só a transformação do ser humano material num ser espiritual lhe poderá proporcionar a visão do cálice sagrado.
É de salientar, de igual modo, que a obra termina com as palavras" Valete, Fratres" (saúde, irmãos), que inaugura uma época de Esperança, de Humildade e de Verdade.



A SIMBOLOGIA DOS NÚMEROS
O conjunto de poemas que constituem a obra Mensagem agrupa-se em blocos mais restritos a que correspondem os números: 2, 7, 5, 1, 3 e 12, num total de 44 poemas. Fernando Pessoa tinha consciência desta divisão e deu-lhe uma significação própria, que não se dissocia do sentido dos seus poemas.

Número um
O número um simboliza o Ser, por excelência, a Revelação. Ele concentra, igualmente, a ideia harmónica entre o consciente e o inconsciente, realizando a união dos contrários, pelo que se liga à Perfeição. Os pólos opostos unem-se numa totalidade que os concilia e da qual resulta uma energia que dá ao humano a comunhão com o transcendente. "Nuno Álvares Pereira", o único poema que Pessoa inseriu sob o título "A Coroa", representa, assim, a unidade, por excelência, o centro onde coexistem as forças antitéticas, de uma forma harmónica, o que lhe confere, pela realização da união dos contrários (à semelhança do andrógino), uma dimensão sobre-humana. Lembremos que, ao nível histórico, Nuno Álvares Pereira se destacou pelo combate aos castelhanos na Batalha dos Atoleiros, em 1384. O seu patriotismo valeu-lhe a nomeação de "Condestável do Reino", atribuída por D. João I.

Número dois
Símbolo da divisão (o criador, o ente criado), o número dois pressupõe a dualidade, seja ela expressão de contrários ou de complementaridade. O dois resume o paradoxo da existência: a vida e a morte. Nesta obra, o número dois prende-se, essencialmente, com os princípios antagónicos passivo e activo. Assim, os dois poemas que se inserem em "Os Campos", "O dos Castelos" e "O das Quinas" apontam neste sentido. No primeiro poema, Portugal aparece como um campo pronto a ser fecundado (o seu rosto é fitado) e no segundo, Cristo, símbolo do sofrimento e da tormenta, é o exemplo das provações a passar, para se chegar ao princípio activo.

Número três
O número três remete para a união entre Deus, o Universo e o Homem, pelo que é um número que representa a Totalidade.
Aparece também ligado a Cristo, cuja figura concentra três vertentes: a de rei, a de padre e a de profeta. Na obra Mensagem, este número corresponde ao conjunto de poemas intitulados "Timbre": "A Cabeça do Grypho/O Infante D. Henrique", "Uma Asa do Grypho/D. João II" e "A outra asa do Grypho/Afonso de Albuquerque" - estas personagens míticas cumprem o arquétipo do rei e do padre, pelo seu Poder e pela sua Espiritualidade; o outro conjunto de poemas, "O Bandarra", "António Vieira" e "Terceiro", agrupados no título "Os Avisos", cumprem a função profética do anúncio do Quinto Império (sendo o "Terceiro" o próprio poeta). Estas personagens históricas aliam, como Cristo, pelas suas características, as dimensões humana e divina.
Por outro lado, o número três sugere ainda as fases da existência: nascimento, crescimento e morte. Ora, sabemos que a Mensagem se liga, simbolicamente, ao ciclo da vida: Brasão (a primeira parte) conota o nascimento da Nação, Mar Português (a segunda parte) evidencia o seu crescimento e o seu momento áureo histórico e O Encoberto (a terceira parte) preconiza a morte, à qual se seguiria o Renascimento.

Número cinco
O número cinco é o número da Ordem, do Equilíbrio e da Harmonia. Significa, igualmente, a Perfeição. Ele aparece em três conjuntos de poemas, cujos títulos são, respectivamente, "As Quinas", "Os Símbolos" e "Os Tempos". "As Quinas" simbolizam as cinco chagas de Cristo, ou seja, o seu sofrimento para a salvação da Humanidade - são, assim, engrandecidas, pelo seu conteúdo mítico, as figuras de D. Duarte, D. Fernando, D. Pedro, D. João e D. Sebastião. "Os Símbolos" incluem cinco poemas em que os valores simbólicos unificantes, nesta obra, assumem maior relevo. Finalmente, em "Os Tempos" anuncia-se já o "terminus" de um ciclo e incita-se ao início de outro, que instaurará a Ordem, a partir do Caos, que é o momento presente. Esse outro tempo será um tempo de harmonia, em que o Homem conhecerá a sua dimensão divina, num reino Espiritual.

Número sete
O número sete corresponde a um período temporal unificante, a semana, que tem sete dias. Ele representa, igualmente, a totalidade das energias, após a completude de um ciclo. "Os Castelos" são compostos por uma série de sete poemas, cujos títulos são os de personagens históricas (à excepção de Ulysses, figura lendária, fundador de Lisboa). Este número liga-se aqui à renovação de um ciclo que se inicia com os filhos de D. Filipa de Lencastre e termina com D. Sebastião. O sete é igualmente um número mágico, associado ao Poder e ao acto de Criação. O sétimo dia que, segundo a Bíblia, foi aquele em que Deus descansou, depois de ter criado o Mundo, aponta para a relação estreita entre Deus e o Homem, a sua obra - na Mensagem, essa indissociação entre os elementos divino e humano é explicitada pelos nomes que constituem o conjunto de poemas intitulado "As Quinas", que confere uma sequência simbólica ao grupo anterior.

Número doze
O número doze remete também para uma unidade - um ano tem doze meses. Este número é o da cidade santa, situada no Céu, a Jerusalém Celeste, que terá doze portas e na qual terão lugar os doze apóstolos. Os doze apóstolos significam a eleição de um novo povo e preconizam outra forma de estar no Universo: aquela que se baseia na fidelidade a Cristo. O número doze é, assim, o símbolo das mutações operadas no interior do ser humano e da perpétua evolução do Universo. O número doze marca, então, o final de um ciclo involutivo, ao qual se sucede a morte, que dá lugar ao renascimento. Na obra Mensagem, a segunda parte ("Mar Português") é composta por doze poemas. Como vimos, pela simbologia que compreende, ela encerra as referências míticas ao período áureo da História nacional (que fecha um ciclo) ao qual se seguiram quatro séculos de trevas. Essas trevas estão presentes na última parte ("O Encoberto") e é aí, também, que se faz apelo ao renascimento.



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Fernando Pessoa (biografia)

Fernando António Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de Junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30 de Novembro de 1935.
Fernando Pessoa foi morar, ainda na infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve contacto com a língua e literatura inglesa. 
Adulto, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor técnico, publicando seus primeiro poemas em inglês. 
Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Porém, abandonou o curso um ano depois. 
Pessoa passou a ter contacto mais efectivo com a literatura portuguesa, principalmente Padre António Vieira e Cesário Verde. Foi também influenciado pelos estudos filosóficos de Nietzsche e Schopenhauer. Recebeu também influências do simbolismo francês.
Em 1912, começou suas actividade como ensaísta e crítico literário, na revista Águia. 
A saúde do poeta português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano foi hospitalizado com cólica hepática, provavelmente causada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, provavelmente aconteceu em função destes problemas, pois apresentou cirrose hepática.


foto de Fernando Pessoa

sábado, 15 de novembro de 2014

Nuno Alvares Pereira

D. Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Santo Condestável, Beato Nuno de Santa Maria, hoje São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nuno Álvares (Paço doBonjardim ou Flor da Rosa, 24 de Junho de 1360 – Lisboa, 1 de Novembro de 1431 ) foi um nobre e guerreiro português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também 2.º Condestável de Portugal, 38.º Mordomo-Mor do Reino, 7.º conde de Barcelos, 3.º conde de Ourém e 2.º conde de Arraiolos.
Considerado como o maior guerreiro português de sempre e um génio militar. Comandou forças em número inferior ao inimigo e venceu todas as batalhas que travou. É o patrono da infantaria portuguesa.

Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «Os Lusíadas», chamando-lhe o "forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer "por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço" e no canto oitavo, estrofe 32, 5.º verso: "Ditosa Pátria que tal filho teve".
Uma escultura sua encontra-se no Arco da Rua Augusta, na Praça do Comércio, em Lisboa, outra no castelo de Ourém e uma, equestre, no exterior do Mosteiro da Batalha. Tem também uma estátua em Flor da Rosa, um dos dois locais apontados como sua terra natal.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Batalha de Aljubarrota

  • O grande herói desta batalha foi D. Nuno Álvares Pereira, um grande apoiante de D. João Mestre de Avis, que decidiu não esperar em Lisboa pelos castelhanos e encontrar-se com eles a caminho de Leiria.
  • D. Nuno Álvares Pereira organizou um pequeno exército que combateu os castelhanos com besteiros e arqueiros a pé que formavam filas para derrubar os inimigos. Sabias que nesta batalha havia cavaleiros ingleses a ajudar o exército português?
  • D. Nuno aproveitou pequenas elevações do terreno, onde colocou arqueiros e besteiros. Mandou cavar fossos (chamados covas-de-lobo) disfarçados com folhas, para que os cavaleiros castelhanos lá caíssem.
  • Depois, dispôs as suas forças em três alas, sendo que uma delas (maior) ficava de reserva à retaguarda, comandada por D. João Mestre de Avis.
  • À frente uma grande linha de soldados comandada pelo Condestável (D. Nuno) enfrentava de frente os castelhanos, dando-lhes a sensação de que estavam em vantagem.
  • A ala esquerda era a célebre ala dos namorados, que enfrentou bravamente os castelhanos, e a ala direita era conhecida por ala da madressilva, que, enquanto a primeira lutava, fazia chover flechas sobre o exército inimigo.
  • Quando os cavaleiros exército castelhano viram avançar os soldados portugueses a pé, recolheram um pouco as suas lanças, julgando que não seria necessário um esforço assim tão grande para os derrotar.
  • Imagina a sua surpresa quando as várias alas começaram a avançar e os rodearam!
  • Esta táctica militar, que ficou conhecida como a "táctica do quadrado", foi o segredo para a derrota dos castelhanos. Apesar da batalha sangrenta, as maiores perdas foram do exército castelhano que foi cercado de surpresa pelas tropas portuguesas.
  • O resultado foi a vitória dos portugueses frente a um exército muito superior, tanto em número como em armas!
  • Para teres uma ideia, os portugueses tinham 1700 lanças, 800 besteiros e 4000 peões; ao todo 6500 homens.
    Por seu turno, os castelhanos tinham 5000 lanças, 2000 cavalos, 8000 besteiros e 15 000 peões, num total de 30 000 homens, com 700 carroças, milhares de animais carregando mantimentos e munições, 8000 cabeças de gado e muitos pagens e outra gente de serventia!
  • Esta batalha foi um marco muito importante na História de Portugal porque evitou que o País caísse nas mãos de Castela e perdesse a sua independência.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Batalha de São Mamede

Motivos da batalha

Após a morte de D. Henrique, em 1112, fica D. Teresa a governar o condado, pois achava que este lhe pertencia por direito, mais do que a outrem, já que lhe tinha sido dado por seu pai na altura do casamento. Associou ao governo o conde galego Bermudo Peres de Trava e o seu irmão Fernão Peres de Trava. Terá até talvez casado em segundas núpcias comBermudo, do qual terá tido uma filha.

A crescente influência dos condes galegos no governo do condado Portucalense levou à revolta verificada em 1128, protagonizada pela grande maioria dos infanções do Entre Douro e Minho. Estes escolheram para seu caudilho, D. Afonso Henriques, filho de D. Henrique e de D. Teresa.
  1. "A Galiza, incluindo debaixo desta denominação a extensa província portugalense e que naturalmente se devia considerar como incorporado o território novamente adquirido ao Garb muçulmano, constituía já um vasto estado remoto do centro da monarquia leonesa. 

    Os condes que dominavam os distritos em que esse largo tracto de terra se dividia ficavam assaz poderosos para facilmente se possuírem das ideias de independência e rebelião comuns naquele tempo, tanto entre os sarracenos como entre os cristãos. Afonso VI pôde evitar esse risco convertendo toda a Galiza, na mais extensa significação desta palavra, em um grande senhorio, cujo governo entregou a um membro da sua família (...)"

Batalha de São Mamede

Na batalha de São Mamede defrontam-se os exércitos do conde Fernão Peres de Trava e o dos barões portucalenses. Estes últimos quando venceram Fernão Peres pretendiam apenas obriga-lo a ceder o governo do condado portucalense ao príncipe herdeiro.

A intervenção dos barões portucalenses, liderada pelos senhores deSousa e de Ribadouro, resultava de um longo percurso, ao longo do qual as linhagens de Entre Douro e Minho tinham solidificado o poder que exerciam na região. Pretendiam, como desde o tempo da condessa Mumadona Dias ocupar um lugar que não estivesse subordinado a ninguém, a não ser uma autoridade local em serviço dos seus interesses. O jovem herdeiro do condado servia exactamente a essa pretensão. Após a vitória Afonso Henriques tomou a autoridade com todo o vigor.

Afonso VII de Leão, ocupado com as vicissitudes da política leonesa, não atribui importância a esta mudança de poder no condado, e limita-se a aceitar o preito de fidelidade de D. Afonso Henriques em 1137. Porque isso contribuía para engrandecer o prestígio do imperador Afonso VII, a chancelaria leonesa não hesita em atribuir o título de rei ao príncipe português. Podia assim Afonso VII afirmar a sua condição de imperador, o qual tem reis por vassalos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os lusíadas: significado do titulo

O vocábulo «Lusíadas», devido a André de Resende, deriva de Luso que, filho ou companheiro de Baco, era considerado como povoador e primeiro rei-pastor da última Tule ã qual teria dado o nome de Lusitânia e o de Lusos, Lusitanos, aos habitantes. Resende criou-o por imitação de Virgílio que, de «Eneas» — Eneias —, formou «Eneades» — Eneida. Embora de data recente, e portanto, neologismo, Camões escolheu este vocábulo para título do seu poema por causa do cunho épico que o caracterizava.